Em tempos de crise hídrica, é preciso se reinventar

Revista Cagece – O senhor assumiu o Governo do Ceará no quarto ano de seca, ou seja, já com muita coisa pra fazer no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos. O senhor tinha noção do tamanho da responsabilidade?

Camilo Santana – Sinceramente, não. A gente não imaginava seis anos seguidos de seca – praticamente a primeira vez do registro de uma sequência tão longa. Então, tem sido um grande desafio, apesar de termos boas equipes à frente dessa área.

E a nossa determinação foi criar um comitê permanente aqui no Gabinete (o Grupo de Contingência, coordenado pelo chefe de Gabinete Élcio Batista), com representantes dos órgãos envolvidos na questão da água para que possamos monitorar a situação. Diariamente é monitorado, semanalmente acontece a reunião desse grupo e, mensalmente, uma reunião comigo. Isso tem possibilitado pactuar com os municípios diversas ações que têm amenizado e evitado o desabastecimento de água. Esse é um desafio.

Mesmo diante de um momento difícil da economia brasileira – temos que reconhecer que o Brasil vive uma das piores crises dos últimos 50 anos – temos mantido essas ações de convivência com a seca que exigem muitos investimentos. E isso tem sido nossa prioridade, seja para a construção de poços, seja para a construção de adutoras, seja para criar alternativas de abastecimento. Mas eu sempre digo que, em crises como esta, é momento também da gente se reinventar, da gente usar a criatividade para buscar alternativas e acho que é uma oportunidade de aprender. Nós estamos aprendendo com esse momento: tanto com a crise econômica quanto com a crise hídrica.

RC – Uma das primeiras ações do seu governo em relação aos recursos hídricos foi a implementação de um Plano de Convivência com a Seca. Acho esse nome muito bom pois, de fato, o Ceará precisa mesmo conviver com a seca, em níveis cada vez mais intensos em virtude do clima. Como é efetivar um plano como este diante não só de uma crise econômica, mas também política? Como tem sido o jogo de cintura do governo para poder manter as ações desse plano?

CS – Um governo, para enfrentar esse problema da água, precisa primeiro se planejar. E como você mesma falou, a seca é um fenômeno natural que sempre vai acontecer, independente da nossa vontade. Estamos em um estado quase todo semiárido e essa é uma tendência natural. Então é preciso estar preparado para conviver com a seca. E o Plano de Convivência com a Seca é uma espécie de planejamento disso. Ou seja, traz quais as ações que precisamos fazer de imediato para enfrentar o problema de forma emergencial, e as alternativas não são muitas.

Ou a gente faz poços onde é possível ter água ou faz adutoras para buscar água, como fizemos em Quixeramobim em menos de 90 dias, evitando um colapso de água na cidade; a adutora de Crateús que tira água do (açude) Araras, quase 150 quilômetros de distância; a adutora de Independência; a adutora do Cedro, enfim, ou operação carro-pipa onde não há possibilidade de ter um manancial para captar a água. Então, o Plano traz as questões emergenciais, traz as ações a médio e longo prazo, traz a infraestrutura hídrica necessária para darmos mais segurança hídrica ao Ceará, tanto para o abastecimento humano, que é prioridade, mas também água para o setor produtivo.

RC – Falando especificamente de Fortaleza e Região Metropolitana, foi um ato de coragem o senhor ter bancado um Plano de Segurança Hídrica. Como é para um gestor tomar esse tipo de decisão, afinal de contas são quase 3,5 milhões de habitantes dependendo dessa água.

CS – Todo mundo estava apostando em um racionamento. Mas por que não um racionamento? Porque a equipe da Cagece e a equipe dos recursos hídricos trouxeram para mim a afirmação de que fazer um racionamento onde um dia teria água de um lado da cidade, em outro dia do outro lado, traria um transtorno tão grande para a população, onde a correria para armazenar água poderia gerar um problema sério de saúde pública e quem mais ia sofrer era a população mais pobre da cidade. Além disso, a economia que iríamos fazer com esse racionamento era de um mês. Então lancei o desafio: ‘vamos buscar alternativas pra gente evitar esse transtorno para a população. Vamos diminuir o desperdício de água, vamos encontrar novos mananciais para buscar água’. Daí surgiu uma série de iniciativas que foram apresentadas em uma reunião ampliada, mostrando quais seriam as ações do estado e também para dar uma resposta à sociedade de que não estávamos parados. Não íamos fazer racionamento, mas uma série de medidas que iriam garantir esse abastecimento.

RC – Entre as ações do Plano de Segurança Hídrica a que achei mais curiosa foi a pressurização do Gavião, uma obra que não queremos usar, mas se precisar estaremos preparados. Como essa ação foi pensada?

 

 

CS – Essa obra é uma questão de segurança. Foi preparado todo um sistema de bombeamento. A água do (açude) Gavião entra na estação de tratamento por gravidade e, se a gente tivesse um problema de abastecimento mais grave, a cota do açude baixaria e não conseguiríamos bombear essa água e faltaria água em Fortaleza. Então investimos nisso. Não foi uma obra barata, e nem uma obra que garantiu mais água, mas foi uma obra de segurança. Ou seja, caso haja uma diminuição de água do Gavião, teremos como bombear e não faltará água para a população de Fortaleza e Região Metropolitana. Esse Plano de Segurança Hídrica foi um conjunto de ações que tem nos permitido, até o momento, evitar o racionamento

RC – Na época que essas decisões foram tomadas e que o senhor decidiu pelo Plano de Segurança Hídrica para não racionar, me pegava pensando: como será o sono do governador hoje, tamanha a responsabilidade…

 

 

CS – A gente faz isso, claro, com muita responsabilidade do ponto de vista da assessoria de informações que recebemos e dando limites. Sempre com uma margem de segurança.

RC – E é aí que eu gostaria de chegar: não sabemos se vai chover o suficiente no ano que vem. Já existe uma estratégia?

 

 

CS – Nós vamos manter todas as ações em Fortaleza e Região Metropolitana. Só nesse plano, investimos mais de R$ 70 milhões. Nós vamos reunir novamente o Grupo de Contingência e vamos fazer uma nova avaliação para tomada de decisões.

RC – A relação da gente com a água é cultural. Sinto falta de aprendermos muito cedo, até na escola mesmo, essa relação especial com a água, especialmente quando se mora na capital e tem água todo dia nas torneiras. Como o senhor imagina uma campanha ideal de conscientização da população? O senhor acha que o que foi feito tem sido suficiente para que o consumidor entenda o quanto esse recurso é importante?

CS – Acho que não. Às vezes penso que seria bom que faltasse água pras pessoas sentirem o que isso significa. Porque a gente só sente mesmo quando falta, como aconteceu em São Paulo.

São Paulo mudou um pouco a cultura de enxergar o problema da água quando houve aquela falta d’água em um ano específico. Lembro que, na época, fui a São Paulo e tinha um carro-pipa abastecendo um restaurante porque não tinha água nas torneiras. Então é preciso que as pessoas compreendam que, principalmente na capital em que se abre a torneira e a água está lá, o trabalho que dá pra essa água chegar aqui. Isso gera um conflito muito grande com o pessoal do interior.

A grande reclamação dos Comitês de Bacias é que deixava de atender à população do interior para garantir água para a população de Fortaleza. Há uma cobrança muito grande: ‘olha, Fortaleza também tem que fazer o dever de casa, tem que fazer o papel de economizar’. A escola talvez seja o local mais importante para que a gente possa, desde cedo, aprender sobre a água. E acho que já está mudando. Falo pelos meus filhos que chegam em casa preocupados com a água, pedem pra secretária fechar a torneira, ‘vamos economizar’, enfim. É importante instituir essa cultura da água, conhecer o semiárido, conhecer nossa realidade. Precisamos mudar um pouco a nossa cultura no olhar que temos pela água. É algo muito precioso para nós.

RC – A gente tem percebido que a própria imagem da Funceme tem melhorado. As pessoas parecem prestar mais atenção no que a Funceme diz.

CS – A Funceme tem acertado. A imagem da Funceme era muito ruim. Se a Funceme dissesse que não ia chover, ia chover (risos). Atribuo essa melhoria de imagem à tecnologia. A Funceme investiu muito em parcerias com instituições internacionais, com modernização de seus sistemas. Impressionante como tem acertado os prognósticos da quadra chuvosa.

RC – E o senhor acompanha tudo pelos aplicativos vendo o clima, o tempo?

CS – No meu telefone tem todos os aplicativos da Funceme. Como aqui na minha sala. Todo dia fico olhando se temos perspectivas de chuva e sempre olho o quanto choveu no dia anterior no Ceará.

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