Reservatórios da Bacia dos Sertões de Crateús registram boas recargas após 10 anos de seca
Anos de déficit hídrico marcaram a região, que agora registra uma das maiores recuperações do Estado
Comparado aos aportes ainda tímidos em outras regiões do Estado, a Bacia dos Sertões de Crateús registra, do início do ano pra cá, uma recarga expressiva em seus reservatórios. Os anos sucessivos sem aportes significativos parecem ter dado uma trégua: com recarga de aproximadamente 300 milhões de metros cúbicos e volume acumulado total em torno de 44%, a região registra uma das maiores recuperações hídricas do Estado até aqui.
O salto no volume dos reservatórios é, de longe, alívio para a região que atravessou quase 10 de seca severa. “O último bom inverno na Bacia dos Sertões de Crateús foi em 2009. De lá pra cá, todos os açudes secaram, em anos alternados. Foi uma época de muita escassez e também de muitos aprendizados. Tivemos de viabilizar transferências de água de outras bacias, construir muitos poços, além de fazer muitos acordos com a população local, em parceria com os Comitês de Bacias”, recorda o gerente regional da Cogerh em Crateús, Rodrigues Júnior, sobre o esforço de gestão e da operação desempenhado pela Cogerh nos últimos anos.
Neste ano, após dois meses de quadra chuvosa, a bacia passou da marca de 5,4% de volume acumulado para 44,7%. O saldo foi positivo: atualmente, são quatro açudes sangrando e mais em dois com volumes superiores a 70% da capacidade total. “Sangrou, e ainda continuam sangrando a Barragem do Batalhão, o açude Carnaubal, o Sucesso e o Colina. O açude São José III, que abastece a cidade de Ipaporanga, está com 83,90% e o Cupim, em Independência, está com 72,17%”, elenca o gerente Júnior.
Os números projetam o bom resultado da quadra chuvosa nos açudes da Bacia, entretanto o gerente reforça o compromisso da gestão responsável e parcimoniosa com as águas da região. “Até o início de 2020 os estoques estavam muito baixos em função do prologado período de estiagem. Foram anos de déficit hídrico. Nosso papel agora é continuar monitorando, para, ao final do período chuvoso termos o quadro real de acumulação, com subsídios para tomar as decisões”, explica o gerente.
Decisões estas, que em tempos de seca, obrigaram a fazer uma adutora de mais 150 km, transferindo água para a cidade de Crateús. Foi uma obra desafiadora para engenharia. “Tivemos de transferir água do açude Araras, para Crateús, há cinco anos”, lembra Júnior. A obra custou cerca de R$ 82 milhões e tem reforçado o abastecimento das sedes municipais de Crateús e Nova Russas. “Em alguns momentos, a estrutura também chegou a atender os municípios de Pires Ferreira e Ipu”, lembrou Júnior. Hoje, a adutora está mantida operacional, como um reforço na garantia hídrica daqueles municípios.
Na região dos Sertões de Crateús, o município de Independência, contudo, ainda espera por chuvas mais expressivas para continuar a recuperação do reservatório Barra Velha. O manancial registra pouco mais de 1% da capacidade total e depende da transferência de água vinda dos reservatórios Cupim e Jaburu II, através de adutora.
O fenômeno da falta d’água em regiões próximas a outras com mais fartura é explicada pela irregularidade no regime de chuvas no Ceará. “Há casos em que, numa mesma região, verificamos bons aportes em um reservatório e péssima recarga em outro”, ressalta o diretor de Operações da Cogerh, Bruno Rebouças. Segundo ele, essa característica obriga o cearense – e, sobretudo, os que fazem a gestão das águas no Estado – a permanecerem sempre diligentes.
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